FELÍCIA

Ela não era minha, mas a conheci bebê.

Isso foi antes da família do meu filho e nora aumentar.

Aí ela chegou e virou rainha!

Era e sempre foi dócil, carinhosa e querida pelo casal e por mim que vinha visita-los vindo de Curitiba onde morava na ocasião.

Cada vez que chegava, trazia um mimo para ela: lacinhos, fitas e roupinhas.

O tempo passou, dois meninos vieram alegrar a família e acabei vindo com minha mudança, morar aqui em Campo Mourão.

E ela continuava a mesma doçura com todos e nem ligava quando algum dos meninos deitava sobre ela.

Acho que até gostava…

Eu a chamava de FÊ.

E quando chegava a casa deles, ela vinha feliz, pulando em mim, como a dizer: estava com saudades.

Linda menina, Fê!

Quando eu era menina e até antes de me casar, tive um cãozinho de nome Pancho.

Ele era tudo para mim naquela época e, depois dele, nunca mais quis ter outro cão. Nenhum poderia substituí-lo.

Mas mesmo não sendo minha, me apeguei a Fê.

O tempo passou depressa e ela ficou cega.

Que pena vê-la batendo nos móveis, querendo encontrar as pessoas e coisas e não conseguindo.

Nunca chorou, latiu ou gemeu.

Foi se acostumando com os caminhos até sua casinha, até a churrasqueira e até onde nos encontrávamos para receber um carinho.

E assim foi, até o fim, deixando em nós uma saudade tristonha e a lembrança de quando enchia nossos dias de alegria.

Obrigada, querida Fê.

“O JUSTO OLHA PELA VIDA DOS SEUS ANIMAIS, MAS AS MISERICÓRDIAS DOS ÍMPIOS SÃO CRUÉIS.” Provérbios, 12- 10

SARAU LITERÁRIO

E nessa última quarta feira do mês, tivemos o I Concurso de Poesias Rubens Luiz Sartori, da Academia Mourãoense de Letras.

Foi um aprendizado para todos nós.

Fui uma das selecionadas e quero deixar abaixo, o poema que escrevi e inscrevi.

Na entrada ficaram expostos os livros dos acadêmicos e até parei para fotografar ( meu livro de poesias e o de história infanto juvenil estavam lá).

( Eu, Sinclair, Dalva, Cristina, Nelci e Giselta)

Segue minha poesia.

SOBRE SAUDADES…

Tenho saudades de coisas

que não vivi.

De pessoas que não conheci,

de mundos, momentos,

de sorriso aberto,

escancarado.

_____

De gestos desmedidos,

de cheiros, de gostos,

que nunca senti ou provei.

Tenho saudades

do pranto que chorei

sem saber porquê.

_____

Tenho saudades do luar

que entrava pela fresta da janela.

De sentir seus abraços, 

da brisa, do vento,

do som dos riachos,

do verde das matas.

_____

Tenho saudades da noite,

das estrelas,

do som de um violão.

Da cantiga tristonha

que embala e mexe

com meu coração.

_____

Tenho saudades do vulto,

daquele elo invisível,

do sentimento ausente

como uma sombra a perder.

Ah, tenho tanta saudade

de você, que sequer cheguei a conhecer…

 

(Aqui com os participantes)

“QUEM, POIS, TIVER BENS DO MUNDO E, VENDO O SEU IRMÃO NECESSITADO, LHE CERRAR O SEU CORAÇÃO, COMO ESTARÁ NELE A CARIDADE DE DEUS?”I João, 3- 17.

 

 

 

FILOSOFANDO…

Fiquei horas com a caneta nas mãos, sobre a folha em branco.

Faz tempo que não escrevo…

Que coisa escrever?

Sobre o tempo, sobre flores, passarinhos, livros, canções?

Acho que já esgotei esses temas…

Então sobre amizade, família, netos, amor, velhice, o que acha?

Viagens talvez?

Política? Nem pensar!!!

Quero esvaziar minha mente e ficar saboreando momentos como esse em que procuro um tema e não encontro nenhum.

Hoje o dia começou mais tarde; é assim mesmo o horário de verão.

Ouço muitas pessoas que dizem gostar ou não dessa mudança que, para mim, não altera nada: nem minha saúde e nem meus hábitos.

Mas o dia está azul e os passarinhos parecem estar meio perdidos nessa mudança que o homem impõe…

Ontem a essa hora as luzes da rua já estavam acesas e hoje o sol ainda brilha forte.

Gostaria que chovesse…

Minhas plantas estão ressequidas e o pó permeia pelas frestas das portas e janelas.

Gosto da chuva como gosto do sol.

Tudo é necessário e perfeito!

Em momentos assim meu pensamento cria asas e voa para outros continentes em busca de minhas filhas e netos.

A saudade dói!

E, quando dou por mim, a folha já está repleta de palavras e sentimentos e nem sei bem o que escrevi…

Vou lendo desde o começo e vejo que reprisei todos os assuntos que achava ter esgotado…

E noto com prazer que acabei escrevendo sobre coisas da vida, a minha vida e isso acaba sendo um assunto inesgotável!

Imagens: 1) duvidas.dicio.com.br; 2) goconqr.com; 3) mixdereferencias.blogspot.com

” QUANDO VEJO OS TEUS CÉUS, OBRA DOS TEUS DEDOS, A LUA E AS ESTRELAS QUE PREPARASTE; QUE É O HOMEM PARA QUE TE LEMBRES DELE? E O FILHO DO HOMEM, PARA QUE O VISITES?” Salmos, 8- 3 e 4

CONVERSANDO COMIGO

_ Por que estou desse jeito? Pergunto em voz alta enquanto me balanço calmamente na rede.

_ Porque sim e pronto! Alguém responde.

Olho para os lados para ver de onde vinha aquela voz e vi que eu estava sozinha.

Era uma voz tão clara, tão perto que parecia ser eu mesma falando…

_ É, acho que estou ficando louca! Falo sorrindo.

_ Claro que não! Ouço a Voz dizer. Simplesmente você está conseguindo me ouvir e conversar comigo, quer dizer, com você mesma! 

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Paro um minuto para absorver o que acabo de ouvir.

_ Pois então, vamos conversar. Sobre o que mesmo vamos falar? Pergunto desafiadora.

_ Ué… responde a Voz; você estava perguntando por que está desse jeito. Podemos começar por aí. Que tal?

_ Tá bom! Respondo. Então vamos lá: porque só agora consigo ficar horas vendo os passarinhos voando, procurando seus ninhos, esperando o beija flor que vem a toda hora tomar a água doce que deixo para ele e nunca fiz isso antes?

_ Ora por que… porque sim! Diz a Voz. Você morava no alto de um prédio, cercado de outros prédios, sem árvores por perto, pra falar a verdade, uma selva de pedras, como iria ver passarinhos e beija flor?

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_ E a lua e estrelas, por que eu não parava para ver? Continuo.

_ Porque se você parasse na rua, seria atropelada por um carro; fala rindo a Voz.

_ É, você está achando graça nessa história, né? Então me responda, dona Sabe Tudo, por que eu me emociono e até choro com pequenas coisas como essas? Pergunto.

_ Vou falar sério com você! Diz a Voz falando pausadamente: porque você envelheceu. É! É isso mesmo! As pessoas quando são jovens vivem tão ocupadas e apressadas que esquecem de parar, ver e sentir a natureza. Isso é uma das coisas boas do envelhecer e agora que você está nessa idade, acaba dando valor a essas pequenas coisas que vão despertando lembranças que vem em forma de emoções.

_ E isso é bom? Pergunto já meio chorosa.

_ Claro que é! Afirma a Voz. O que seria de nós sem essa vivência, essa aprendizagem que nos leva a ser pessoas melhores?

_ Sabe Voz, (agora eu estou me sentindo super íntima da minha interlocutora) às vezes tenho saudade do que não fiz, de pessoas que não conheci, de países que não visitei… isso é possível?

_ Agora você está filosofando! Diz a Voz com sabedoria. É possível sim porque em algum momento tudo isso um dia fez parte da sua vida em histórias que ouviu, filmes que assistiu, conversas que ficaram nas gavetinhas da sua memória.

_ Hum…respondo bocejando; esta conversa está me dando sono de tanto ouvir você falar e falar…

_ Bem, se você está com sono eu também estou porque somos apenas nós. Responde a Voz bocejando também. Vamos deixar nosso papo para outra hora?

_ Sim…obrigada Voz por conversar comigo. Digo fechando os olhos.

A Voz sorriu e se recolheu em si mesma.

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Imagens: 1) dreamstime; 2) artflorir.com.br; 3) gifts.blog.br

“SOU SEMELHANTE AO PELICANO NO DESERTO; SOU COMO UM MOCHO NAS SOLIDÕES. VELO E SOU COMO O PARDAL SOLITÁRIO NO TELHADO.” Salmos 102- 6 e 7