Ela era tão jovem e sonhadora…
Gostava de flores, das árvores, dos animais do campo, dos riachos e do silêncio.
Passava horas sentada embaixo daquela “sua” árvore, um ipê florido, à beira do lago.
Pensava em quão lindas seriam as cerejeiras do Japão…

Tinha a maior vontade de conhecer suas origens e esse país que ela admirava tanto por suas paisagens belíssimas e pessoas tão apegadas às suas tradições!
Em seu colo, sempre um livro aberto ou um caderno no qual escrevia seus haicais e poemas.
“PERFUME NO AR,
JAPONESAS CONVERSANDO.
SÃO AS CEREJEIRAS.”
Nesse momento, fechou os olhos e pareceu ouvir as vozes sussurradas das japonesas sob as árvores carregadas de flores.
Sentiu o perfume que exalavam e abrindo os olhos tomou em suas mãos uma folha de papel que começou a dobrar, várias vezes, sem formar nada.
– Por que não consigo fazer maravilhas como fazem os japoneses?
E novamente escreveu:
“AS DOBRAS SUTIS
NO PAPEL TOMARAM FORMAS.
SÃO OS ORIGAMIS.”
– Ainda bem que consigo me expressar escrevendo. Falou baixinho.
– Não deixa de ser uma forma linda de se expressar também! Alguém disse.
Ela olhou assustada, repentinamente tirada do seu devaneio, para um jovem japonês parado ao seu lado.

– Por favor, não se assuste! Disse ele. Tenho passado sempre por aqui e vejo você sozinha, tão pensativa, sempre a ler, a escrever. Fico lá longe observando, mas hoje tomei coragem para me aproximar.
E ele se sentou ao lado da jovem.
Começava aí uma grande amizade, uma história de repartir conhecimentos, sonhos e amor.
Ficavam horas ali conversando.
Ele a contar histórias do seu país, ela a contar causos do seu.

Lá de longe, quem olhasse veria, às vezes, ela dançando tão leve, enquanto ele olhava encantado e, outras vezes, ela sorrindo muito enquanto ele mostrava a dança dos samurais.
De repente paravam e começavam a escrever.
Faziam isso muitas vezes e um mostrava ao outro, os versos que escreviam.
“VEM VINDO APRESSADO!
NO SILÊNCIO, OUÇO O GALOPE.
CAVALGO NO VENTO.”
– Eu sou como aquele que cavalga no vento. Disse ele. Venho de longe e quem sabe um dia, volto em suas asas…
“FLORES PROCURANDO
UM GIRASSOL AMARELO.
O SOL LÁ NO CÉU.”
– E esse que acabo de escrever é como sou. Disse ela. Em eterna procura de outros povos, outras pessoas, outros lugares.
E assim passavam os dias e eles se aproximando cada vez mais.
Em um dia, ela encontrou um papel dobrado em seu caderno.
“NA ESSÊNCIA DA VIDA
DESCUBRO, CHEIO DE ENCANTO,
PERFUME DE AMOR.”

Ela sorriu e guardou aquela declaração tão singela dele.
O tempo foi passando e um dia ele contou que precisava retornar ao seu país.
“MISTURARAM GOSTOS,
GESTOS, SALIVAS, TEMORES.
CHORARAM NO ADEUS.”
– Eu volto! Disse ele. Volto para te buscar!
E dia após dia, lá estava ela, com o caderno aberto em seu colo, muitas vezes o olhar perdido e, algumas vezes, lendo alto o que acabara de escrever.
“MURCHARAM AS FLORES,
PÉTALAS SE DERRAMARAM.
LÁGRIMAS DE DOR!”
E ela chorava baixinho lembrando quão doces foram os momentos passados com ele.
“ CHEIRO DE PERFUME
NA PELE LIMPA DO BANHO.
VOLTE, MEU AMOR!”
E as chuvas caíram e ela lá a escrever:
“A CHUVA CAINDO
MOLHA OS PENSAMENTOS MEUS.
ESTOU NAUFRAGANDO!”
E ali, naquele lugar onde foi tão feliz tantas vezes, ela se deixou ficar, as gotas da chuva misturadas com suas lágrimas sentidas.
Achou que ia morrer…
Sua roupa molhada, tão fria, colava em seu corpo já tão fraco da espera.
Fechou os olhos e começou a ouvir a melodia dos sinos dos ventos espalhados nas árvores ao redor.
Aos poucos foram sumindo e ela sentiu que estava prestes a entrar em um outro mundo.
De repente, sentiu uma pressão forte em seu corpo e estava com que pairando no ar.
Eram braços fortes que a seguravam com todo o carinho possível e a levavam para baixo de um abrigo.
“ AH, AQUELES RAIOS
ROMPENDO POR ENTRE FOLHAS!
DE NOVO ESPERANÇA.”
Ela abre os olhos e tudo se transforma!
“ DE REPENTE, O SOL.
É LUZ, CALOR, ENERGIA!
TRANSFORMO MEU CORPO!”
-Voltei para te buscar! Ele diz.
E ela, como por encanto, sente-se revigorada!
E quem olhasse de longe, veria o casal, mãos dadas, seguindo em direção ao arco íris no céu.

“ NAS MÃOS, UMA FLOR.
LEVO COMIGO FELIZ,
UM BRINDE AO AMOR!”
Essa história escrevi há muito tempo atrás e é uma homenagem a um povo ao qual tenho profunda admiração.
Foi publicada na “CIDADE EM REVISTA”, número 48 de fevereiro de 2018, da minha amiga, Cidinha Coletty.

Imagens: 1) rotadeferias, 2) 3) e 4) Pinterest
“A ESPERANÇA DEMORADA ENFRAQUECE O CORAÇÃO, MAS O DESEJO CHEGADO É ÁRVORE DE VIDA.” Provérbios, 13- 12