Na minha infância não existiam pastelarias como a 10 Pastéis em todo canto, nem pastéis em caixinhas, prontos para serem fritos, nem massas prontas esperando para colocar recheios…mas existia o garoto esperto, aquele que queria levar vantagem em tudo, no caso…meu irmão.
Mamãe já andava cansada de ver seu filho sentar-se à mesa, olhar para os pratos e escolher sempre o maior: bife, ovo frito, panqueca e, na nossa história, pastel.
Papai agradecia o alimento e aquele menino nem fechava os olhos: parecia um jacaré olhando a presa…já estava escolhendo o maiorzão!
Nem bem se falava o “amém” e ele esticava seu garfo pegando o escolhido.
Um belo dia, mamãe resolveu pregar uma peça naquele guloso.
Esticou a massa, com a ajuda de uma garrafa que fazia as vezes de um rolo de macarrão, e colocou o recheio de carne nos pastéis.
Todos do mesmo tamanho, menos um: grande, bem maior que os outros, no qual ela colocou recheio de cascas de batatas!
E foi, novamente, tudo igual: nos sentamos à mesa, papai agradeceu o alimento e…zápt! ele esticou o braço e fisgou o dito pastel que estava realmente uma beleza, se destacando no meio dos demais.
Ele salivava de prazer!
Deu a primeira mordida bem no meio onde o recheio formava uma saliência, mastigou, fez cara de ponto de interrogação, engoliu e mudou a cara: era o próprio espanto!
Olhou para o pastel em sua mão e tentou identificar o que era aquilo e voltou os olhos para minha mãe que fixava os seus firmemente nos dele.
– Gostou? Ela perguntou em voz inocente. São cascas de batatas, achei que você gostaria…
ele então levantou num pulo e saiu correndo para tentar cuspir o que ainda restava na garganta.
Nós, os outros, sem entender nada, perguntamos o que estava acontecendo e mamãe contou o sucedido.
Não sei se ele aprendeu a lição mas sei que jamais esqueceu o fato!
Só faltava ele ter gostado do recheio…
Do meu livro “CONFIDÊNCIAS AO MEIO DIA”.
Um comentário em “O RECHEIO DO PASTEL”