E eu com três anos e meio, diretamente das Minas Gerais, fui morar em Londrina, no Paraná, uma cidade que cresce a cada dia!
De uma cidade produtora de café para outra cuja riqueza era o café.

É a segunda cidade mais populosa do Estado e seu nome tem origem em Londres (capital da Inglaterra e Reino Unido).

Lá meu pai dava aulas de Português em colégios e minha mãe, aulas de piano em casa.
Foi quando nasceu minha irmã Ângela para alegria minha que só tinha um irmão mais velho (Ciro) e que já virou um “pé vermelho” voltando a morar lá há muitos anos.
Melhor para nós que podemos voltar!

E, aqui vai um poema lindo sobre ela, de ninguém nada mais, nada menos que Cora Coralina!
Homens pioneiros
chegaram de longe
cheios de Fé.
Na terra vermelha,
no seio da mata,
na cova profunda
plantaram café.
Vanguardeiros.
Braços possantes
ergueram a cidade
na terra distante.
Homens vieram,
mulheres, meninas.
Casadas, solteiras,
perdidas e achadas.
Alvas. Morenas. Cafusas.
Mescladas.
Unidos, reunidos
criando a riqueza
nas terras escuras
roxo-vermelha do Paraná.
Planta. Replanta.
Trato. Colheita.
Peneiras. Terreiros. Poeira.
Carretas, machados, arados.
Serras. Serradores. Serrarias.
Toras, galhadas e troncos.
Machadeiros. Galpões.
Homens – mulheres – meninos.
Luta. Trabalho.
Terras – Norte do Paraná.
O chamado da terra.
O apelo da gleba.
O homem presente.
Londrina nasceu.
Londrina cresceu.
Baliza altaneira.
Porta-bandeira
levando um brasão.
Caminha adiante,
plantando cidades,
nas terras vermelhas
do Paraná.
Riqueza. Abastança. Cultura.
Seus homens unidos
lutando valentes
na terra feraz,
nem clamam, nem pedem.
Fartas ofertas,
as fontes abertas
– sugando.
Seus homens sorrindo,
suas sobras caindo,
num crivo sem fim.
O trigo dourando
a terra padrão.
Dizendo fartura,
certeza de pão.
A cana acamada
vestindo de verde
a terra lavrada.
Cafezais montam guarda
e mandam a mensagem
da terra vermelha –
do Paraná.
Entradas. Estradas.
Picadas, balizas
avançam pra frente.
Rodagens. Asfalto.
Carroças. Carretas. Tratores.
Apitos de usinas.
Motores. Vapores.
Criadores. Currais.
Riqueza que espelha
a terra vermelha
do Paraná.
Giram-girando
às voltas do sol
os campos floridos
dos girassóis.
O rami alastrado,
conjugado
ao verde entonado
das amoreiras.
E os grandes ranchões
do bicho-da-seda
fiando a riqueza
da terra vermelha
do Paraná.
No fim a estória contada,
a estória acabada.
O Pioneiro – vencedor e vencido
já velho e abatido,
descansa caído
vestindo a mortalha
de uma terra vermelha
que bem trabalhou.
©CORA CORALINA
In Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais, 1965

“O SENHOR, POIS, É AQUELE QUE VAI ADIANTE DE TI; ELE SERÁ CONTIGO, NÃO TE DEIXARÁ, NEM TE DESAMPARARÁ; NÃO TEMAS, NEM TE ESPANTES”. Deuteronômio, 31-8
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